terça-feira, 2 de junho de 2009

Mas... e se for a felicidade?


Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você...

Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?

Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor... pois eu me comovia vendo você, pois eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo...

Meu Deus, como você me doía de vez em quando!

E eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça...

Então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme só olhando você! Sem dizer nada, só olhando e pensando: “Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando”...

E pensando que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros...

E eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique, a gente constrói qualquer coisa, até um castelo...

(...) Você se doou tanto quando eu não pedia, e no momento em que pela primeira vez eu pedi, você negou, você fugiu...

(...) Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros!

Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro...

Quis tanto dar, tanto receber.

Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não quis pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.

- Uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo!

(Caio Fernando Abreu)

5 comentários:

Jacque disse...

Um selinho para você, se quiser participar...

Beijo.

Jacque

Codinome Beija-Flor disse...

Ai!
Esse texto é de tirar a gente o chão, Como seu me fizesse reviver tanta coisa que já vivi, coisas que são tão parecidas, pois acho que amor dói igual em quem quer que seja.
Mas é impossivel acreditar que "que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver", o processo de desamor é longo e às vezes quase impossivel.
Linda a sua escolha e a ilustração então...
Bjos

Anônimo disse...

Helinha,
aimmm adorei a tirinha da Mafalda, e que texto lindo ...
Ai ai qdo amamos, sofremos, quando perdemos sofremos, eita vida de dor, rs...
Muito frio aí?
Aff aqui está demais ...
Beijos e lindo dia

Anônimo disse...

Grande Mafalda.
E grande Caio.
E maravilha você, de unir esses dois momentos de inspiração.
Vejo grandes revelações de você aqui.
Bjs

Tamiris disse...

Magnifico texto de caio F. Abreu...

Ai vai mais uma pequena frase dele, para viajarmos pela imaginação
"
"porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência."

Bjos