sexta-feira, 19 de junho de 2009

Do que você tem saudade?...


Minha mãe sempre diz que "pra morrer, basta estar vivo". E que "a única certeza na vida é a morte".

Ela tem uma certa razão, claro. Tem uma razão autenticada pela experiência adquirida ao longo dos anos e por sua sabedoria serena.

É certo que podemos ter dúvidas acerca de quase tudo na vida: se iremos encontrar nossas almas gêmeas, se teremos bons empregos, se teremos filhos e netos... Mas temos a certeza de que um dia partiremos desse mundo. Isso é fato. Todo mundo morre, pelo menos na sua forma física e pelo menos por enquanto (afinal, a ciência tem avançado tanto!).

Mas não concordo que a morte é a única certeza na vida. Talvez cada pessoa tenha sua lista de certezas. Eu acredito que existe outra grande certeza na vida. É a saudade.

Invariavelmente, estamos sempre sentindo saudade. De alguém, de alguma coisa, de algum lugar...

Não conheço ninguém, em sã consciência, que não sinta essa coisa danada, que nos aperta o peito, às vezes a garganta e que dói uma dor tão diferente e inexplicável... Na verdade, acredito que sente saudade até quem não tem a consciência tão sã (esses, aliás, talvez até mais!) e até os inconscientes!

Segundo o dicionário Michaellis, saudade é “1 - Recordação nostálgica e suave de pessoas ou coisas distantes, ou de coisas passadas. 2 - Nostalgia.”

O dicionário apenas dá um norte. Não seria possível, realmente, resumir em uma definição rápida o significado da saudade. Certas coisas se entendem melhor sentindo...

Claro que tenho saudade de pessoas queridas! Da minha mãe, meu pai, minhas irmãs, sobrinhos, cunhados... primos, tios... amigos... todos que vivem meio distante de mim... E sempre vou sentir, pois é impossível morar todo mundo junto e em qualquer lugar que eu viva, sempre sentirei saudade de alguém...

Mas não é só isso... Essas saudades sempre existirão, mas por algum momento dá pra apaziguar, através de um reencontro. Mas eu tenho saudade do que se foi também!

Eu tenho saudade do afagar dos meus cabelos, feito pelo meu pai ao penteá-los... Como sempre, eu vivia descabelada e só meu pai dava conta de pentear aqueles cabelos longos e finos que desciam pelos meus ombros...

Tenho saudade do gosto dos docinhos que minha mãe comprava em Belo Horizonte e levava pra gente... Ela guardava os docinhos em uma portinha do seu guarda-roupa, que era uma espécie de cofre, trancado à chave (que só ela tinha). Comíamos os docinhos pequeninos aos poucos e, talvez por isso, eles tinham um sabor incomparável...

Incomparável também era o cheiro da comida da minha tia e madrinha Glorinha... Era maravilhoso e único (como ela, aliás, única também, com sua risada e seu coração enormes)! Sinto muita saudade desse cheiro... Uma vez, caminhando na hora do almoço, passei em frente a uma casa de onde saía um cheiro muito parecido! Fiquei tentada a entrar e conhecer a cozinheira, mas não tive coragem...

Tenho profunda saudade do mundo que eu via de cima da goiabeira da minha casa de infância... Misturavam-se ali o mundo real – dos quintais dos vizinhos – e o meu mundo imaginário, tão apenas meu!

Tenho saudade do som das risadas que dávamos, eu, minhas irmãs, meu primo Adão, minhas coleguinhas da rua, enquanto brincávamos e corríamos, despreocupadas... Se eu pudesse, voltaria no tempo para gravar esse som, pra ouvir e me lembrar sempre do quanto a vida pode ser tão gostosa!

A saudade abrange os 5 sentidos e muito mais!

Tenho saudade do estado de graça em que fiquei ao dar meu primeiro beijo... Sensação boa!

Como diz o dicionário, são todas saudades de coisas passadas. Mas, e a saudade do futuro? Ou do imaginado? Ou do nunca vivenciado? Será que é possível?

Nunca me preocupei muito com o possível. Sei apenas do que sinto. Mesmo que muitos não compreendam (talvez nem eu!), eu sei que sinto...

Sinto saudade do amanhã. Que não virá.

Saudade do beijo que não dei, da risada que não soltei, das frases que não falei, das palavras que não escrevi. Dos planos que não concretizei, dos instantes que não compartilhei.

Saudade de tudo com que sonhei e de tudo que não vivi.

Nem dói. Mas é muito sentida. É uma saudade azul-clara como o meu mundo de cima da goiabeira, despretensiosa como minhas risadas na infância, que faz afagos no meu coração como as mãos do meu pai nos meus cabelos, com o cheiro bom da comida da minha tia e o gostinho dos doces da minha mãe. Suave e terna. Que me lembra o tempo todo que na vida temos que escolher uma estrada e renunciar a outra. E que, no meio dessa encruzilhada, esse complexo de sentimentos que traduzimos como saudade sempre estará a nossa espera.

E você? Tem saudade de que?

Hélia

"O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."

19 comentários:

Pelos caminhos da vida. disse...

Tem selinho la pra vc.

beijooo.

Depois volto pra ler seu texto amiga.

lili laranjo disse...

Helinha
O ontem
O hoje
e o amanhã serão sempre...VIda...
UM beijo

Inexplicável


Inexplicável o Amor...
Inexplicável a Vida...
Inexplicável o Sofrer...
Inexplicável o Morrer...

Tanta coisa que é inexplicável...
Tanta coisa que urge repensar...

Para isso é preciso matar...
Matar a fome e a sede...
Matar a maldade e arrogância...
Matar o orgulho e a vaidade...
Matar o vício e o egoísmo...

E então...

Inexplicavelmemte surge nova Vida...

Inexplicavelmente o esperar é Alegria...
Inexplicavelmente o morrer é Vida...
Inexplicavelmente o Amor é Eterno

LILI Laranjo

Vilma disse...

Hoje senti saudade hehe acho que o tempo todo carregamos saudade mas, isso se torna ruim qnd esquecemos que vivemos o presente


me chamo Lucas da Silva e Silva =P

Cleo disse...

Tantas saudades do que foi, do que poderia ter sido, saudade de alguém hoje, neste presente, e saudade do futuro que ainda não houve se ele não estiver comigo....snf...snif
Belo texto Helinha.
Bom fim de semana iluminado.
Cleo

MAGNUN disse...

HELINHA,BOM DIA,TENHO SAUDADES APENAS DAS PESSOAS QUERIDAS QUE SE FORAM,DO MEU PAI,JÁ ALGUM TEMPO,DA MINHA IRMÃ MAIS NOVA,RECENTEMENTE,ALIÁS,ANTES DE MORRER,DISSE,QUE SEU FILHO SERIA UM CANTOR SERTANEJO,E QUASE UM ANO DEPOIS,VOCÊ ACREDITA,QUE O MOLEQUE,COMEÇA À DESPONTAR NO MUNDO SERTANEJO,ACREDITO MUITO NA VIDA APÓS A MORTE.
-EXISTE VIDA APÓS A MORTE.QUEM ME DISSE,FOI UM MORTO VIVO,QUE NÃO SABIA SE ESTAVA VIVO OU SE ESTAVA MORTO.
MAGNUN,ALEM DAS PALAVRAS...
ABRAÇOS

Marinho disse...

Saudades... Isso é um conceito que nós, tugas, gostamos de dizer que é é só nosso, como o fado. Desculpa para o tédio abúlico e o fatalismo paralisante que marcam muito da nossa visão e acção sobre o PortugAll actual.
Saudades, eu tenho. Como tu, da infância, dos cheiros, sabores, feelings e nódoas negras. Dos sorvetes, das descobertas, dos desastres, das inocências culpadas.
Olho para os meus filhos e tenho cada vez mais saudades de ontem e sinto mais vertiginosa a velocidade que me traz o amanhã.
Saudades de escrever ao correr da pena, a pensar em nada, só a sentir... saudades.
Obrigado por me pôr a pensar consigo, stôra.
Beijo de parabéns. Boa disposição para mais uma viagem à volta do Sol. Ele está lá, parado, só para olhar para ti.

A disse...

A saudade costuma estar associada aos portugueses...porventura por causa do fado.Todavia, todos temos saudades de alguma coisa e/ou de alguem. Mas a inevitabilidade dela leva-nos a tentar supera-la. Eu tenho saudades de muita gente, de muitas coisas e do futuro.
Um beijinho.

meus instantes e momentos disse...

muito bom o texto, gosto daqui.
Tenha um feliz final de semana.
Maurizio

IsaBella disse...

Ei... vim ao seu blog pelo da Gi...
adorei seu texto!

Tenho saudades da minha infância, dos meus amigos que moram longe, do meu amigo que falesceu...
Tenho saudade dos dias que foram inesquecíveis... Saudade dos momentos em família!
Tenho saudades de muitas coisas... Mas, que sei que se tenho saudades, é pq essas coisas foram boas pra mim naquele tempo!
^^
adorei seu blog!
um beijo grande!

Luiz Caio disse...

Oi Helinha! Como vai?

Eu sinto saudade de alguns amigos que tive em minha infância e adolescência... Basicamente foram os mesmo! Porém, não sinto saudade do tempo, apenas dos amigos! Deixei a Capital da cidade
( S.Paulo) e vim para o interior
(Ribeirão Preto) As vezes sinto falta do bairro onde eu morava!

TENHA UM LINDO DIA DE DOMINGO, E UMA ÓTIMA SEMANA!

BEIJOS.

Amiga do Cafa disse...

Bacana seu texto sobre a saudade.
Cheio de emoção e delicado.
Gostei da parte em que você escreve sobre a saudade de seu pai afagando seus cabelos.

"Saudade de tudo com que sonhei e de tudo que não vivi."
Pois é....a saudade do não vivido também é complicada.
Mas tudo é parte da gente.
Experiência. E saudade é coisa boa, mesmo doendo, mesmo fazendo chorar.
Sinal que estamos vivos !
Obrigada pelo carinho no dia do meu aniversário.
Beijão !

Anônimo disse...

Hehehe... Muito bonito o texto...
Lembrei que tenho blog, já estava indo dormir... Daí lembrei dele tadinho... Vou dar maior atenção pra ele! hahaha... :P
Depois eu leio todos os seus antigos posts!

Beijão, tia!
:)

b disse...

Tenho saudade de uma parte de mim que não sei em que tempo ou em que espaço ficou e, saudade de minha mãe que partiu quando eu era menina. Esta saudade é um "para sempre de verdade".

Jacque disse...

Tenho um selinho para você no Blog BORBOLETA AZUL.

Beijo.

Jacque

Dalinha Catunda disse...

Olá Helinha,

Eu desde criança aprendi estes versos, que não sei a autoria:

" Saudade é uma dor,
mas não é dor de doer.
É vontade de lembrar,
com vontade de esquecer"

A única saudade real que tenho, é de uma querida tia, que me ensinou a ler, escrever, contava histórias e eu a considerava uma fada, pela magia que ela trouxe para minha vida.
Hoje ela mora num reino encantado, chamado céu.
Beijos,
Dalinha

nilb disse...

Amiga !
Só hoje consegui visitar seu novo
cantinho !!
Saudades...

.

Valdemir Reis disse...

Olá amiga Helinha, bom te ver! Belissimo trabalho, encantado, maravilhoso, parabéns. Apresento o texto abaixo:
“Antes de falar, escute.
Antes de julgar, espere.
Antes de rezar, perdoe.
Antes de escrever, pense.
Antes de desistir, tente.
Na busca por mim, descobri a verdade.
Na busca pela verdade, descobri o amor.
Na busca pelo amor, descobri Deus.
E em Deus, tenho encontrado tudo.
Enquanto navegar pela vida
Não evite tempestades e águas bravias.
Apenas deixe-as passar.
Apenas navegue e continue.
Sempre se lembre:
mares calmos não fazem bons marinheiros.
O mais importante em qualquer jogo não é vencer,
mas participar.
Da mesma forma, o mais importante na vida não é o triunfo, mas o empenho.
O essencial não é ter vencido, mas ter lutado bem.” A. d.
Agradeço fortemente de coração a sua atenção e o seu carinho. Deixo votos de uma semana repleta de muitas conquistas, muitas bênçãos e que reine a paz, saúde e proteção, brilhe sempre! Fique com Deus. Encontraremos-nos sempre por aqui. Felicidades.
Valdemir Reis

IsaBella disse...

Oi...
vim agradecer a visitinha!
te linkei, ok?
e vou te seguir tbm!
beijosssssss

manuel afonso disse...

Linda reflexão. começou de uma forma muito íntima com a recordação das frases da mãe, que são intemporais e de todos os lugares. Depois a saudade, a saudade que aparece quando se gosta e algo afasta, pode ser a distância, pode ser um outro impedimento, pode ser um sentimento tão típico do latino e do português e o seu fado.