
A vontade, contida, incendeia o corpo que anseia por outro.
Não outro qualquer, mas aquele querido, desejado.
Esperar pelo momento enlouquece, atormenta: o encontro de dois mundos tão iguais, mas que se completam em suas sutis diferenças!
A agulha transpassa o tecido, como Penélope a ansiar por Ulisses: tecendo, bordando, desmanchando cada fio e reinventando novos bordados na luta contra os minutos que passam.
Só o beijo cala a boca que diz “Vem!”...
Só o toque aplaca o fogo que queima...
Só o enlace das mãos abranda o suplício da distância...
Só o encaixe dos corpos sacia e completa o encaixe das almas.
E quanto mais se prolonga a espera, mais crescem o desejo – pelo beijo, pelo toque, pelas mãos, pelo encaixe – e os dilemas! Pequenos dilemas que aumentam ao não encontrar segurança nas linhas de um desenho que se faz, se desfaz, se refaz...
É a cruel face da dúvida que acompanha as voltas do relógio e o sorriso inseguro no espelho, refletindo a alma irresoluta.
Entre o sim e o não, o limbo do talvez...
E assim, adormece-se, na aflição de mais uma noite a tecer sonhos, sem saber se eles irão um dia colorir a realidade...
^^
Hélia