domingo, 5 de julho de 2009
O desaparecido
Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.
Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico.
Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.
(O desaparecido - Rubem Braga)
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Na noite de segunda-feira, 17 de dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote. Às 23h30 da noite de quarta-feira, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos.
A causa da morte foi uma parada respiratória em conseqüência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem tratar quimicamente.
Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.
Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era funcionário da TV Globo.
Gosto bastante dos textos do Rubem Braga. São de uma intimidade, de uma profundidade, de uma sentimentalidade linda... coisa que admiro e me impressiona muito, especialmente nos homens (por não ser assim, tão comum...)!!
Hélia
Postado por
Hélia Barbosa
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18 comentários:
Rubem Braga merecia melhor divulgação da sua obra. Gostei imenso!
Obrigada pelo comentário amiga.
Beijo.
Jacque
Do longe se faz perto e a memória sempre aproxima o que o corpo não alcança... Bonito texto, gostei do apontamento! Bjo e boa continuação.
Obrigado pela visita e folgo em saber que gostaste do meu singelo cantinho!
Devo confessar que não conhecia a obra de Rubem Braga, mas pelos excertos que colocaste aqui, gostei bastante da maneira de escrever dele, da sinceridade inerente às suas palavras.
Queria também dar-te os parabéns pelo blogue que está muito bom, ganhaste mais um leitor assíduo, conquanto o tempo o permita!
Ele realmente consegue passar a emoção ao texto!
Obrigada pela força lá no blog!
To triste ainda... mas, deve passar logo!
Sobre a foto da porquinha rosa...
hahahhahaah... eu esqueci de tirar! rsrs!
mas ela é bem engraçadinha! rsrs!
boa semana!!!!
beijos!
Que essa semana seja repleta de gdes realizações e muita paz.
beijooo.
Oi Helinha! Como vai?
Gosto da sua sensibilidade!
TENHA UMA LINDA NOITE DE DOMINGO!
BEIJOS.
Belissimo texto, uma linda semana pra ti, muito carinho e paz no coração,,,beijos na alma...
Helinha, amiga, es muy lindo leer lo que publicas, es un bello paseo venir por aquí.
Te dejo besos.
Hélia,
ele era " Rubem Braga"....
Ah se todos os homens fossem como os mais sensíveis poetas e escritores.
Bela homenagem.
Ótimo texto.
Ás vezes sinto um frio na alma....
Boa semana !
Obrigada pelas visita.
Concordo com o rouxinal.
Tem selo para vc. em curiosa.
Sandra
Tenho que confessar que não conheço a obra de Rubem Braga.
O texto é lindíssimo.
Obrigada por me dar a conhecer esta figura singular.
Um beijinho.
RECADO IMPORTENTE NO BLOG
POR FAVOR REPASSE
Vim avisar vc amiga que hoje vc é a homenageada do blog En-Cantos,te esperamos lá.
beijooo.
Helinha, sem palavras ao acabar de ler...
Apenas uma vontade irresistível de chorar...
Chorar por amores que não deram certo... chorar por amores que deram certo... chorar por amores sonhados e realizados...
Todos os amores!!!
Os possíveis e os impossíveis...
Rubem Braga me deixou meio tonta...rs
Haverá?! Há sempre uma deusa perdida
Nos labirintos da contradição
Há sempre alguém que usa a palavra amor
Soprando doce veneno ao coração
Há sempre alguém que nos diz coisas tontas
Há sempre alguém que afugenta a Saudade
Há sempre alguém que nos marca a ferro frio
Há sempre uma alma ausente da verdade
Bom fim de semana
Doce beijo
helia ñ conhecia com essa clareza que me apresentaste gostei muito obrigada por isso querida!
tem homenagem para vc no en cantos!
querida helinha
td fim de semana ofereço selos personalizados ao blog que escolho
chegou a sua vez!
esta no blog cantinho dos mimos,passa-la e pegue é seu feito com carinho
http://mimolindo.blogspot.com/
!bjos!
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