sexta-feira, 31 de julho de 2009

Então o amor é isso...


"Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...

Uma fita dando voltas? Se enrosca...

Mas não se embola, vira, revira, circula e pronto:

Está dado o laço.

É assim que é o abraço: coração com coração,

Tudo isso cercado de braço.

É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo,

No vestido, em qualquer coisa onde o faço.

E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?

Vai escorregando...

Devagarinho, desmancha, desfaz o abraço.

Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.

E na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.

Ah! Então é assim o amor, a amizade...

Tudo que é sentimento?

Como um pedaço de fita?

Enrosca, segura um pouquinho,

Mas pode se desfazer a qualquer hora,

Deixando livre as duas bandas do laço.

Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.

E quando alguém briga, então se diz - romperam-se os laços.

E saem as duas partes, igual a meus pedaços de fita,

sem perder nenhum pedaço.

Então o amor é isso...

Não prende, não escraviza, não aperta, não sufoca.

Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!"



Não sei de quem é este texto...

É antigo, quer dizer, eu o recebi há muito tempo por email - não constava autoria -, e gostei, à primeira vista. Ou primeira lida!

Creio que muita gente já o conhece... Mas coisa boa sempre é gostoso ver de novo (ou ler de novo, ou fazer, ou comer, ou sentir...)!!

O que acontece é que o último texto que postei aqui - a pipa e a flor - me fez lembrar este...

Porque é impressionante como a gente, muitas vezes, é tão inteligente e racional pra tanta coisa e tantas situações, e não consegue ser assim quando o assunto é o amor!! Não consegue ser prático e objetivo! Você ama a pessoa e a quer, de todo jeito... Nem é que você está cego, na verdade você sabe muito bem que as atitudes da pessoa com você não são o que deveriam ser (ou o que você gostaria que fossem)!! E você não consegue se afastar facilmente, mesmo quando percebe que aquele amor já não te faz bem... que aquele amor já não é mais laço, mas um nó, que te sufoca! Mesmo quando os momentos de angústia são tão mais frequentes que os momentos de felicidade... Deve ser porque não se racionaliza o amor, ne?

Mas, como eu já disse em vários comentários em blogs amigos, especialmente no blog do Lucas ( http://galdes.blogspot.com/ - VISITE O BLOG DELE, É UM ENCANTO, VALE A PENA!), o bom disso, como em quase tudo que nos faz sofrer na vida, é o aprendizado, o crescimento... e o fato de você realmente valorizar quando encontra alguém que tenha você porque te ama e te merece. E que não te prende. Mas te tem em um laço que, ao mesmo tempo que te envolve, te dá tanto espaço que você não quer, de jeito nenhum, sair! É aí que vc diz: "Ah, então o amor é isso!"...

Pois então...

Desejo a vocês, meus queridos,

Lindos laços, muito bem dados

E deliciosos abraços, bem apertados!

^^

Hélia

terça-feira, 28 de julho de 2009

A pipa e a flor



"Fiquei triste vendo aquela pipa enroscada no falho da árvore. Rasgada, ela girava que girava, ao vento, como se quisesse escapulir. Mas não adiantava. Você já viu aqueles bichinhos de asas, quando eles caem em teias de aranhas? Era daquele jeito... Tive dó. Pipa não foi feita para acabar assim. Pipa foi feita para voar. E é tão bom quando a gente as vê, lá no alto... Eu sempre tive vontade de ser uma pipa..." (Rubem Alves)


Um menino confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.

Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado.

Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois!

A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo o que vira.

Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa.

Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto.

A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim... Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo. Ficava emburrada. Exigia explicações de tudo.

E a pipa começou a ter medo de ficar feliz, pois sabia que isto faria a flor sofrer.

A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.

A pipa via, ali do baixinho de sobre o quintal as outras pipas lá em cima. E sua boca foi ficando triste. E percebeu que já não gostava mais tanto da flor como no início...

Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.

Há três finais possíveis para ela:

1 - A pipa percebeu que havia mais alegria na liberdade de antigamente que nos abraços da flor. Porque aqueles eram abraços que amarravam. E assim, num dia de grande ventania, e se valendo de uma distração da flor, arrebentou a linha, e foi em busca de uma outra mão que ficasse feliz vendo-a voar nas alturas...

2 - A pipa ficou tão triste que resolveu nunca mais voar...
- “Não vou te incomodar com os meus risos, Flor, mas também não vou te dar a alegria do meu sorriso”.
E assim ficou amarrada junto à flor, mas mais longe dela do que nunca, porque o seu coração estava em sonhos de vôos e nos risos de outros tempos.
A pipa nunca mais sorriu.

3 - A flor, na verdade, era uma borboleta, que uma bruxa má enfeitiçou e condenou a viver fincada no chão! O feitiço se quebraria no dia em que ela fosse capaz de dizer não à sua inveja e ao seu ciúme, e se sentisse feliz com a felicidade dos outros. E aconteceu que um dia, por encanto, vendo a pipa voar, ela se esqueceu de si mesma por um instante e ficou feliz ao ver a felicidade da pipa. Esse encantamento aconteceu num belo dia de sol: a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas!

* Rubem Alves, “A pipa e a flor”, 2003, Editora Loyola *

As pipas foram feitas para voar... Mas há aí uma contradição: para voar, ela tem que estar presa! Sim... Para voar, a pipa tem que estar presa numa linha e a outra ponta da linha precisa estar segura na mão de alguém. Poder-se-ia pensar que, cortando a linha, a pipa pudesse voar mais alto, mas não é assim que acontece. Se a linha for cortada, a pipa começa a cair.

Não seria maravilhoso se quem está segurando a outra ponta da linha pudesse voar junto com a pipa???

Bom...


Qualquer um que me conheça, ao menos um pouquinho, sabe que eu escolho e acredito realmente no terceiro final...

Esse encantamento, é claro, é o amor!

É... eu ainda acredito em finais felizes... e mais ainda em felicidade além do final!!

^^

E vc? Já escolheu o seu final??

Beijos!!

Hélia


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mas às vezes...


Ele disse: não chore que chorar enfraquece.

Eu disse: mas às vezes é como a chuva que se
precisa quando tem estiagem demais e tudo fica
muito seco.

[Do livro: Aprendendo a viver - Clarice Lispector]

^^

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Não vou sozinha...


Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos que vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.

(A vida verdadeira)

~~~ Thiago de Mello ~~~

Obrigada, meus queridos amigos, que vão comigo nessa caminhada...
Ela não teria a mesma beleza sem a presença carinhosa de vocês!
Feliz dia da amizade!!

Hélia

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Educar é fazer sonhar...


"O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer uma ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e em reinvenção."

"Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco, por isso que recusa o imobilismo.A escola em que se pensa, em que se cria, em que se fala, em que se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim a vida."

(Paulo Freire)

Os alunos de hoje - crianças, adolescentes ou adultos - vivem em um mundo globalizado, com uma variedade e velocidade de informações incríveis! Um mundo eletrônico e informatizado, o mundo do computador, da internet, dos sites de relacionamento, do orkut, do youtube, do msn... Não é possível que pensemos que serão interessantes para eles as mesmas atividades e conteúdos maçantes e repetitivos que víamos na escola há 20 anos, nada significativos para suas vidas...

Não basta esperar que os alunos nos entendam... precisamos, antes, entendê-los!!

... quem disse que a vida de professor era fácil, cara pálida???

Mas, quer saber...? Eu amo muito essa vida!!

^^

Hélia


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sebastião


Comecei a dar aulas com 16 anos. Na ocasião, fazia o curso de Magistério (nível de Ensino Médio, porém era um curso técnico profissionalizante), o que me habilitava (na época) a lecionar para as séries iniciais do Ensino Fundamental.

Trabalhava pela prefeitura de minha cidade (Visconde do Rio Branco, em Minas Gerais) mas em um projeto do Governo Federal chamado “Educar”, e meus alunos eram crianças bem carentes da periferia da cidade. Eles tinham entre 4 e 6 anos e eram todos vizinhos, moravam em casas muito humildes de uma rua sem calçamento. A escola funcionava em um imóvel que pertencia a um centro espírita kardecista. Consistia em uma sala enorme, com carteiras, quadro de giz e um armário com livros da doutrina espírita; uma cozinha pequena e precária; um quartinho para guardar os mantimentos e onde eu guardava também meus livros de literatura e materiais didáticos; um banheiro e uma varanda. As funcionárias ali éramos eu e a senhora que trabalhava como cozinheira e faxineira. Só. Não havia pátio, as crianças brincavam, na hora do recreio, em frente à escola, na rua mesmo. Normalmente, não passavam carros ali. Não sei se a rua tinha um nome oficial, todos conhecíamos o lugar como “Rua dos Bois”.

Passei muitas dificuldades e fui muito feliz ali. Mas esta história não é sobre o período que trabalhei na Rua dos Bois. Isso conto em outra ocasião. Esta história é justamente sobre quando saí de lá.

Como é bem comum na educação, o Projeto Educar não foi pra frente. O governo federal cessou com as verbas, a escola fechou e as crianças tiveram que ir para escolas mais distantes. Ou simplesmente ficaram em casa. A senhora que cozinhava perdeu o emprego. E eu me tornei uma funcionária que a Prefeitura deveria remanejar.

Nessa época, já estávamos no segundo semestre, fim de agosto, início de setembro. No fim do ano eu prestaria vestibular em Viçosa, na UFV (Universidade Federal de Viçosa) e, se passasse, não moraria mais em Visconde do Rio Branco. Então, a perda do emprego não me incomodava tanto. Mas fui remanejada para uma escola que ficava na saída da cidade, na estrada que levava à cidade vizinha, Ubá. Para chegar à escola, eu teria que pegar o ônibus intermunicipal. Como o salário era muito baixo, não compensaria financeiramente o que eu gastaria com passagens de ida e volta. Ficou combinado, então, que eu iria e voltaria de carona com a diretora, todos os dias, pois ela ia de carro. Eu nem a conhecia, mas era a única solução e foi assim que comecei a trabalhar nessa escola.

A escola era bem mais estruturada que a minha sala do centro espírita. Tinha diretora, professores, auxiliares de serviço. Mas era uma escola de zona rural, portanto, bem diferente das escolas onde estudei.

As salas eram multisseriadas. Eu iria trabalhar auxiliando uma professora que dava aulas para crianças de segunda, terceira e quarta séries, todas juntas na mesma sala. Era uma loucura. Dividíamos o quadro com um traço feito com giz e separávamos mais ou menos as crianças. Eu não entendia como alguém podia aprender naquele ambiente. Mas algumas crianças são mesmo guerreiras.

Um desses guerreiros me chamou a atenção desde o início. O nome dele era Sebastião.

Ele tinha 9 anos, pele morena, num tom claro, cabelos e olhos pretos. Não desgrudava de uma menina chamada Sandra. Eram vizinhos, ela era um ano mais velha e meio ídolo dele. Não só dele. Era a menina “mais esperta” da sala. Tinha uma letra bonita, produzia belos textos e acertava tudo em Português. Ela se destacava. Sebastião, ao contrário, penava nas aulas da nossa língua materna. Não tinha uma letra muito boa, não escrevia bem e lia com muita dificuldade, juntando as sílabas e gaguejando.

Mas Sebastião era fera em Matemática! Em cálculo mental, ninguém o vencia. Calculava com uma agilidade incrível. E entendia também de Matemática Financeira. Até porcentagem, que a gente ainda não tinha estudado, ele sabia. Nessa matéria, era muito melhor que Sandra. Ele mesmo dizia:

- Professora, a Sandra escreve e lê melhor que eu. Mas em matemática ninguém me ganha. A Sandra nem chega perto!

Ele ria e completava:

- Meu vô tem uma vendinha. Quando eu crescer, quero ter uma venda bem maior que a dele. Venda não, supermercado. Pra que eu vou querer aprender português? Quero só ler melhor pra ninguém me passar a perna. Meu negócio mesmo é conta. Lá em casa eu que compro tudo, eu que resolvo tudo pra minha mãe.

Disse a Sebastião que ia ajudá-lo a ler melhor e que iríamos melhorar também a escrita dele, para que as pessoas entendessem o que ele escrevia. E que com o tempo ele veria se era isso mesmo que queria, ser comerciante.

Os dias se passavam e Sebastião melhorava um pouco em português. Pouco. E ia cada vez melhor na matemática. Eu olhava para aquele seu sorriso de canto de lábio e já o imaginava negociando, vendendo, comprando... sempre com aquele sorrisinho.

Gostava das crianças, mas nunca me adaptei muito na escola. Alguns professores me olhavam com certa desconfiança; acho que porque eu chegava com a diretora, pensavam que eu era uma espécie de “espiã” dela. Tolice. Íamos e voltávamos juntas, mas não tinha a menor intimidade com ela.

Fazíamos filas com as crianças na entrada e após o recreio, para voltar para a sala. Um dia, na fila da entrada, a diretora chamou um dos alunos. Um menino franzino, chamado Pedro. Não dava aulas para ele, mas conhecia sua fama. Era um aluno daqueles que aprontam o tempo todo e deixam o professor louco. Mas uma criança. Quando Pedro chegou perto dela, lá na frente de todas as filas, a diretora começou a berrar. Disse que no dia anterior ele tinha esbofeteado um aluno. Xingou o menino de várias coisas. E chamou o aluno que, segundo ela, tinha sido agredido por ele. O tal menino foi até ela, assustado. Então, ela segurou Pedro com força e mandou que o menino o esbofeteasse. Eu não acreditei no que ouvi. Nem o menino, que olhou para ela ainda mais assustado. Ela repetiu a ordem. Eu me aproximei, mas juro que achei que não fosse acontecer. Na minha cabeça não era possível que uma diretora fizesse aquilo. Não sei, achei que ela fosse dizer que não era pra fazer de verdade. Mas era sério e enquanto eu me aproximava, o menino esbofeteou Pedro. Assim, com a diretora segurando e todos olhando. O grito saiu da minha garganta tão alto que parecia que o tapa havia sido em meu rosto:

- Não!

Todos se voltaram para mim, eu balançava a cabeça e falei baixo:

- Não, não.

A diretora deu um sorriso sem graça:

- Ele nem bateu de verdade.

As professoras começaram a entrar para as salas com os alunos. Meus alunos entraram com a outra professora da sala. Mas eu não conseguia sair do meu lugar. Finalmente me aproximei da diretora e disse a ela:

- A gente não pode fazer isso. Não se pode humilhar alguém assim, muito menos uma criança.

- Ele bate em todo mundo aqui. – ela disse – Já estava na hora de alguém revidar. Se não fizermos isso, ele se torna o valentão da escola e daqui a pouco está batendo em nós.

- Nós somos educadoras. Não podemos ensinar as crianças a serem violentas. Somos adultas, nós é que temos que ser racionais, não elas. Você não tem o direito de fazer isso. Eu nunca vou aceitar que uma criança seja tratada assim. Eu não vou aceitar.

- Você não entende. É muito novinha, ainda não viu nada, não sabe o que é uma escola.

Ela me deu as costas e saiu. As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, bem quentes. Fiquei parada, chorando, olhando para o vazio. Então, ouvi uma voz:

- Não chore, professora. O Pedro já está acostumado com isso. Ele apanha do pai dele todo dia mesmo.

Era Sebastião, com aquele sorriso de canto de lábio. Olhei pros olhos brilhantes e escuros dele. Mesmo quando ele sorria, os olhos de Sebastião tinham uma tristeza misteriosa. Disse:

- Não, Sebastião! Ninguém pode se acostumar com humilhação, com tristeza, com sofrimento! Não pode! Todos temos defeitos e todos temos valor! É como você me diz sempre, a Sandra é boa em português, você é bom em matemática, todo mundo é importante!

- Eu sei, professora.

- Ninguém pode se sentir superior a outro a ponto de maltratar e humilhar. Nunca deixe que façam isso com você, viu...

- Eu não sou bobo, professora. Eu não deixo.

Ainda chorei naquela noite e a cena não me saía da cabeça. Não tinha coragem de comentar com ninguém, tinha vergonha por todos ali que se calaram, pela diretora com sua arrogância e por mim, que não sabia como deveria agir. Só comentei por alto com a minha mãe, mas sem entrar em detalhes.

O fato é que a diretora não mais voltou a ter essas atitudes. Não sei se ela teve medo de uma denúncia, se foram minhas palavras... Mas ela, que ia se aposentar no fim do ano, ficou mais branda com os meninos durante o resto do período letivo.

Em dezembro, numa sexta-feira, Sebastião me trouxe um saquinho de balas. Agradeci e ele sorriu, aquele sorriso mesmo:

- Comprei com meu dinheiro. Eu ajudo meu pai, ele me paga e eu guardo.

- Pro seu supermercado – eu disse.

- É, pro meu supermercado.

Guardei as balas na bolsa, para mais tarde, como sempre faço. Até hoje, minha bolsa vive cheia de balas que ganho dos alunos! Quem quer uma balinha sabe sempre que é só me procurar... Na segunda-feira a diretora não foi para a escola, tinha uma reunião. Fui de ônibus e me atrasei um pouco, quando cheguei os alunos já estavam em sala. A primeira coisa que notei foi a carteira vazia do Sebastião. A segunda foi o rosto triste de Sandra. Antes mesmo de dar bom dia aos alunos, perguntei para Sandra:

- Cadê o Sebastião?

- Ele morreu, professora.

O ar ficou irrespirável, o chão sumiu sob meus pés e a voz da Sandra parecia um som distante:

- Sexta-feira... quando acabou a aula... a gente ficou por aqui brincando um tempo... antes de ir pra casa. Lembra que a gente tinha que atravessar a estrada pra chegar em casa? Então, foi assim... Ele correu e disse que ia chegar na minha frente. Um carro veio e atropelou ele. Ele já chegou no hospital morto. O enterro foi no sábado.

Seriam necessárias dezenas de postagens para descrever tudo o que senti naquele momento, e no restante daquele dia, e em todos os outros dias, principalmente quando chegava na escola e não via o sorriso matreiro e os olhos profundos de Sebastião. E também para contar o quanto eu chorei e o quanto me lembrei dele em tantas noites! Ou para falar da minha angústia e dos meus questionamentos, do meu repetido “Por quê???”... que ficou na minha garganta por tanto tempo, assim como as balas de Sebastião, que permaneciam no fundo da minha bolsa.

A verdade é que o ano letivo acabou dias depois... Eu prestei o vestibular, passei na UFV, me mudei para Viçosa e já em janeiro consegui emprego em uma ótima escola da cidade... Depois me mudei para Belo Horizonte, me casei, tive 2 filhos, passei em concursos da prefeitura de BH e do governo de MG... me formei em Administração e em Matemática... e hoje dou aulas de matemática em uma escola bem organizada.

Tantos alunos já passaram pela minha vida! E nunca me esqueci do rostinho de Sebastião. Não sei quanta diferença eu fiz em sua curta vida. Mas sei da enorme diferença que ele fez na minha! Tenho alunos muito difíceis e problemáticos, todos os anos, como qualquer professor. Chamo a atenção deles, brigo, sou firme. Reclamo, falo com os pais. Mas também tento fazer bem mais que transmitir conteúdos, sou carinhosa, amorosa e os trato com respeito. E sempre, por mais estressada que esteja, procuro pensar que aquela pode ser a última vez que nos vemos. E isso, sinceramente, faz toda a diferença!

Hélia

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã.
Porque, se você parar pra pensar, na verdade não há...”
(Renato Russo)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Eu não sei viver sem ter carinho... (é a minha condição!)



Ah...

Esta semana está sendo bem corrida e tumultuada...

Muitos eventos, pouco tempo, pouca Hélia pra muita coisa!

Assim, não tenho entrado aqui, nem para postar, nem para ler as postagens dos amigos e comentar...

Acredito que na próxima semana estarei mais tranquila e aí tudo volta ao normal...

Mas hoje quero registrar aqui que tenho ficado cada dia mais surpresa com o universo da "blogosfera"!! Sempre usei muito emails, msn, orkut... mas posso dizer, com toda certeza, que nada se compara ao mundo dos blogs! Fico encantada com a conexão que existe entre os blogueiros... Sempre tive vontade de ter um blog, mas nunca imaginei que fosse encontrar aqui tanto carinho...

As pessoas acompanham, comentam, elogiam, concordam, discordam... mas estão sempre presentes! É um carinho tão grande, um calor tão grande que encontro aqui, que fico sem palavras (o que é bem raro se tratando de mim: tenho mania de escrever demais!!)...

Então hoje quero agradecer a todos vcs que, de alguma forma, estão agora tão presentes na minha vida! Obrigada por esse encantamento... Eu não sei viver de outra forma a não ser assim, encantada, sempre, com alguém ou alguma coisa... Também não sei viver sem carinho (quem sabe??) e vcs me proporcionam tudo isso!!

Obrigada!!

Um obrigada mais que especial à Ana, que me homenageou no blog En-cantos. O blog é coletivo, dela e da Marcia, já falei dele aqui. É maravilhoso e sempre recomendam algum blog... dessa vez foi o meu blog Essencial e fiquei muito emocionada! Ah! A imagem que está no início desse post foi retirada lá da homenagem que recebi no blog En-Cantos, onde foi colocada uma parte do texto "o desaparecido", do Rubem Braga...

Emocionada fiquei também com o carinho da Marcia em outro blog seu, o Cantinho dos Mimos! Não é que fui homenageada lá também?? Homenagem linda... ganhei um selo com minha foto e o selo lindo aqui abaixo, que ofereço aos meus amigos... Gostaria que levassem o selo com vcs e colocassem em seus blogs, pois ficou muito lindo (Austeriana, clique no selo com o botão direito do mouse, depois em salvar imagem, viu! rsrs...)!!



Obrigada Ana, obrigada Márcia!!

E, claro, recomendo os blogs delas!!

Pelos caminhos da vida, da Ana:
http://anamgs.blogspot.com/

Meus pensamentos, da Marcia:
http://marciaamad.blogspot.com/

Cantinho dos Mimos, da Marcia:
http://mimolindo.blogspot.com/

En-Cantos, da Ana e da Marcia:
http://encantosamigos.blogspot.com/

Hummm... pra quem ficou sem palavras eu escrevi bastante, hein!

^^

Obrigada de novo pelo carinho, amigos! Volto (mais presente e visitando todos) na próxima semana!!

Beijos!!



Hélia

domingo, 5 de julho de 2009

O desaparecido


Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim.

Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico.

Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.

Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor.

(O desaparecido - Rubem Braga)

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Na noite de segunda-feira, 17 de dezembro de 1990, o escritor Rubem Braga reuniu um pequeno grupo de amigos, cada vez mais selecionados por ele, na sua cobertura em Ipanema. Foi uma visita silenciosa, mas claramente subentendida pelos amigos Moacyr Werneck de Castro, Otto Lara Resende e Edvaldo Pacote. Às 23h30 da noite de quarta-feira, sedado num quarto do Hospital Samaritano, Rubem Braga morreu, sozinho como desejara e pedira aos amigos.

A causa da morte foi uma parada respiratória em conseqüência de um tumor na laringe que ele preferiu não operar nem tratar quimicamente.

Rubem Braga, considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros.

Como jornalista, Braga exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de "O Globo" em Paris, em 1947, e do "Correio da Manhã" em 1950. Amigo de Café Filho (vice-presidente e depois presidente do Brasil) foi nomeado Chefe do Escritório Comercial do Brasil em Santiago, no Chile, em 1953. Em 1961, com os amigos Jânio Quadros na Presidência e Affonso Arinos no Itamaraty, tornou-se Embaixador do Brasil no Marrocos. Mas Braga nunca se afastou do jornalismo. Fez reportagens sobre assuntos culturais, econômicos e políticos na Argentina, nos Estados Unidos, em Cuba, e em outros países. Quando faleceu, era funcionário da TV Globo.


Gosto bastante dos textos do Rubem Braga. São de uma intimidade, de uma profundidade, de uma sentimentalidade linda... coisa que admiro e me impressiona muito, especialmente nos homens (por não ser assim, tão comum...)!!

Hélia

Prêmios e encantamentos...



A Márcia, do Blog "Meus pensamentos" (http://marciaamad.blogspot.com/) teve uma iniciativa muito carinhosa: criou uma premiação para os blogs que ela acompanha e que a acompanham! Gesto lindo e encantador, como ela... Para cada categoria, ela foi listando blogs que considera interessantes de alguma forma - ou de várias, ou de todas...

O blog Essencial foi lembrado por ela logo em 3 selos lindos... Fiquei muito feliz mesmo, por esse gesto carinhoso e apresento aqui os selos-prêmios com os quais ela me presenteou:

Prêmio Borboleta Cristal - Blog Revelação

Segundo a Márcia, "PREMIO DEDICADOS A BLOGS QUE EU CONHECI E ME SURPRENDERAM".

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Blog Apaixonante

Segundo ela, "BLOGS QUE VOCÊ CONHECE E NUNCA MAIS DEIXA DE VISITA-LOS".

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Blog Pura Alegria

Márcia diz que são os "Blogs que alegram o nosso dia!".

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Obrigada, Márcia!!

Vc, sim, com esses gestos de carinho é que alegra nossos dias!!

^^